terça-feira, abril 18, 2017

Welcome to OAT: ativista ucraniano é sósia do Barack Obama

O “Obama” ucraniano é ativista social e membro do temível Setor da Direita, a sua estória é a parte da história da Ucrânia contemporânea e representa o drama de um país em guerra pela sua própria soberania e independência política.


Oleksandr Zhamoydo é um dos heróis do Maydan, ex-maquinista do metro de Kyiv, voluntário e líder do Setor da Direita do seu bairro. O seu nom de guerre é “Cigano”, mas todos os amigos o pedem agora para mudar ao “Obama”.
Oleksandr já completou 50 anos, vive na cidade-satélite de Kyiv – Vyshneve, têm uma filha de 28 e filho de 23 anos. Durante 13 anos trabalhou como maquinista do metro de Kyiv, depois num posto de abastecimento e dois anos antes da Revolução de Dignidade (2013), era um taxista privado.

No dia 18 de fevereiro de 2014 ele estava indo para casa, quando por volta das 17h00 ouviu na rádio a exortação do comandante do Maydan (atualmente chefe do parlamento da Ucrânia) Andriy Parubiy aos moradores de Kyiv: “todos ao Maydan – irá começar o ataque [governamental]”. Eram cerca das 18h quando Oleksandr se juntou aos defensores da Maydan que estavam defendendo a barricada debaixo da ponte pedestre na rua Instytutska. Os dois canhões de água da polícia deitaram a barricada abaixo, os seus defensores se retiraram cerca de 100 metros abaixo, até avenida Khreshatyk, se entrincheirando no edifício dos sindicatos.

Para parar o destacamento da polícia “Berkut” atiravam as pedras, mais tarde os engenhos incendiários improvisados. “Berkut” tentou descer até avenida Khreshatyk pelas escadas, os ativistas usaram contra eles as mangueiras do incêndio (Sic!), não cedendo o espaço e polícia se retirou. Os ativistas foram os perseguindo, tentando queimar pelo menos um canhão de água.
Maydan de Kyiv na noite de 18 de fevereiro de 2014
Era cerca das 22h15 – Maydan estava iluminado pelo fogo dos petardos e as chamas. Uma catapulta (Sic!) estava lançar as garrafas incendiárias contra “Berkut”. De repente, um grupo de polícias, à uma distância de 30-40 metros, abre o espaço para um atirador com a carabina que este aponta contra Oleksandr. O ativista estava o vendo, mas não tinha como reagir. Tudo aconteceu como no cinema! Polícia dispara! Mais tarde a peritagem estabeleceu que Oleksandr foi baleado pelo chumbo grosso com um shot-gun “Fort-500”. Ação absolutamente ilegal. Ele foi atingido por oito estilhaços à queima-roupa: 4 – na perna, 1 – perfurante no braço direito, 1 – na nádega, 2 – no estômago. 
Uso do shot-gun Fort-500 pelo destacamento "Berkut" na Maydan
Foi levado, de imediato, ao edifício dos Sindicatos, o paramédico “Stas”, de Ucrânia Ocidental (eles se encontraram mais tarde), lhe aplicou os primeiros socorros. O edifício dos Sindicatos começou a arder (queimado pelo “Berkut”). Oleksandr entrou no seu “Lada”, se recusou à ir ao hospital porque tinha medo de ser sequestrado pela polícia que perceberia que ele vinha da Maydan (foram registados vários casos de raptos e tentativas de raptos dos defensores da Maydan por parte de polícia do regime).

No caminho da casa Oleksandr se sentiu mal e desmaiou num posto de abastecimento. Apenas conseguiu ligar para filho: “Zhenia (Yevhen), venha levar a viatura”. Foi levado ao hospital provincial de Boyarka, cerca de 40 km de Kyiv. Tinha medo que os médios o podiam entregar à polícia. Mas o médico percebeu o medo e o sossegou: não precisava de ter o receio, toda a sua equipa apoiava a revolução ucraniana.

Os ativistas da Maydan locais quando souberam que um companheiro ferido estava no hospital local vieram em peso! O hospital foi cercado, colocaram as patrulhas em todo o lado, os guardas, para garantir que Oleksandr não seria tocado. As pessoas absolutamente desconhecidas receavam pelo seu bem-estar!

Oleksandr teve muita sorte – ser tratado por grandes médicos. Os estilhaços policiais feriram o seu fígado, perfuraram intestino grosso e fino. Devido à demora em atendimento médico começou a peritonite. Era necessário operar imediatamente, tudo estava em jogo, a operação só começou às 11h30 no dia 19 de fevereiro. Ele foi operado pela cirurgiã Irina Kandaurova – a médica com experiência de 45 anos de serviço! Opera até hoje, uma pessoa incrível!

Quando abriu os olhos após a operação viu que as suas mãos e os pés estavam amarrados com as toalhas, duas enfermeiras estavam sentadas ao seu lado na sala de reanimação. Começou se desamarrar, levou uma injeção e desmaiou de novo. No dia 27 de fevereiro de 2014, num grupo dos 12 ativistas da Maydan criticamente feridos foi levado ao tratamento médico na República Checa. Um deles – Yuri Sydorchuk, em coma, morreu sem recuperar a consciência, já na República Checa. E o resto voltou. Ele, como deficiente físico do 3º grau.

Os médicos levaram Olesksandr do mundo dos mortos, ele teve sorte. “Então, – diz ele, – sou necessário aqui por alguma razão”.

A Revolução não acabou para Oleksandr. Ele é chefe da organização distrital do Corpo Voluntário Ucraniano do Setor da Direita (DUK PS). Nas vésperas da Páscoa, os ativistas ucranianos encheram uma camioneta de 5 toneladas de prendas, bolos e ovos de Páscoa, benzidos pelo Patriarca Filaret da Igreja Ortodoxa Ucraniana – Patriarcado de Kyiv. Com o amigo Eduard Kopylov foram à linha da frente para compartilhar este momento com os militares ucranianos da linha da frente (ler mais). A ideia inicial era visitar os voluntários do grupo DUK PS, mas na verdade Oleksandr e Edurad simplesmente visitavam todas as unidades ucranianas no caminho entre Avdiivka (arredores do aeroporto de Donetsk) e até Volnovakha.  

Nos arredores de Avdiivka amigo pediu que Oleksandr coloque o capacete balístico, foi tirada a foto que se tornou viral na Internet. Oleksandr gosta da imagem, os seus amigos exigem que ele adopte o novo nom de guerre “Obama”, carinhosamente o chamam de “Obamʼych”.

Oleksandr deseja continuar o seu trabalho, planeia a próxima viagem aos orfanatos na zona de OAT. “Fomos ajudar aos nossos combatentes, – conta ele, – mas as crianças necessitam a ajuda muito maior. Estamos lutar aqui pelo seu futuro”.
Pelo Decreto do Presidente da Ucrânia de 18 de fevereiro de 2017 (№ 41/2017), Oleksandr L. Zhamoydo, “pela coragem civil, defesa dedicada dos princípios constitucionais da democracia, direitos e liberdades humanos, demonstradas durante a Revolução de Dignidade, a posição ativa social e voluntaria”, foi condecorado com a ordem “Pela Coragem” do 3º grau.

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