quinta-feira, janeiro 26, 2017

O crime russo em Mariupol: dois anos depois

Loja infantil "Tigrinho"
Dois anos atrás, em 24 de janeiro de 2015, a cidade ucraniana de Mariupol foi alvo de bombardeamentos russo-terroristas dos sistemas de mísseis “Grad” que alvejaram o bairro residencial “Shidniy”: 31 pessoa (entre eles duas crianças) morreram; 117 (11 crianças) foram feridos, alguns dos feridos ficaram deficientes físicos para sempre.

No total, foram disparados 120 mísseis, em alguns minutos foram danificados 4 jardins-de-infância, 3 escolas, um hospital, cerca de 50 prédios de habitação e 28 casas particulares. Outras 11 casas foram completamente arrasadas.
Claro que ninguém queria acreditar, mesmo agora é difícil acreditar que os mísseis foram usados contra os bairros residenciais. Como foi possível? Mas dado que eu já tenha visto os resultados da chegada da horda, também conhecida como o “mundo russo”, em outras cidades e aldeias, não que estava pronto, mas pelo menos tinha visto e teve que trabalhar.

Até aquele momento já existia uma equipa coesa de voluntários e ajudantes dos voluntários, ninguém fazia as perguntas – todos trabalhavam. É lá onde passei uma parte da minha infância visitando o irmão. Lá visitávamos os amigos e a madrinha. Lá tudo estava como se fosse num nevoeiro: fumo, cortina de fumaça, camuflagem, vento e frio.

Se evoca frequentemente Mordor, era realmente visto pelos moradores de Mariupol naquele dia no bairro “Shidne”. Fumo, fogo, sirenes, sangue, carros à arder, casas queimadas, as pessoas fugindo, gritos e lágrimas, o céu negro... Uma tenda, um Doutor, o gerador, combustível, lenha, lonas, vidros grânulos, alimentos, cobertores, material de cobertura. Fervia o formigueiro voluntário.
Os quem não deixou a cidade, indo viver com os seus familiares, ficou na cidade. Com medo de saqueadores, pois os apartamentos ficaram sem janelas, sem luz, água, gás. Um friiiiiio. E o leste estava todo agitado. Esperamos um novo ataque à noite, portanto, começamos à procurar um lugar onde era possível ficar fora da tenda. Alguém o encontrou junto aos sacristães da igreja e decidiram usar a igreja como o abrigo. A autodefesa de Mariupol se juntou às patrulhas e identificação dos mísseis não detonadas.

Trovejou fortemente, mas a área residencial não foi atingida mais. De seguida, começou a corrida à procura de lonas. Foram esvaziadas todas as lojas. As lonas eram enviadas de outras regiões da Ucrânia, trazidas pelos voluntários de Berdyansk, Zaporizhye, Dnipro e Mykolaiv. Era trazida e esgotada. E novamente esgotada. Quando uns voluntários saíam, outros chegavam. E assim sem parar. Nas manhãs, todos aqueles que passaram à noite no chão, estavam constipados e o Doutor os tratava. Água, chaleiras, alimentos, medicamentos. E assim foi durante alguns dias.

O prefeito fazia um show-off ridículo, mostrando o seu serviço ao governador. Quando os governantes iam embora, o circo acabava e tudo voltava à estaca zero – os voluntários, membros de autodefesa, as figuras públicas (uma espécie de mistura fina de pessoas realmente preocupadas).
Acho que ninguém conseguirá avaliar plenamente aquilo que aconteceu em Mariupol. O que aconteceu em outras cidades ucranianas, com a chegada das forças russo-terroristas de ocupação. É claro que ninguém desejava esses sentimentos aos habitantes de outras cidades e regiões.

Mas basta olhar para as fotos daquilo que aconteceu e imaginar a sua cidade neste estado. Não é a Síria ou Afeganistão é Mariupol, Maryanka, Shirokine, Vodyane, Avdiivka e assim por diante. Esta é Ucrânia no século 21.

É assustador e difícil. Triplamente, dez, mil vezes mais difícil para as crianças. Quando eles começam a se esconder, escutando a máquina de lavar a roupa secar os lençóes, quando acordam com o som de um carro passando com a pergunta “novamente vão nos bombardear?”
Isso é impossível de esquecer.
É impossível de perdoar.
Isso estará em nós até o fim das vidas, e não só das nossas, estará nos nossos genes.
Estará agora em genes dos ucranianos do leste.

Nos nossos genes estará a percepção de povo infantil, que discute de forma imponentemente, com um copo de vodca na mão sobre a dominação do mundo, o povo que saltou todos os diabos para roubar, matar, humilhar – o povo que vive toda a sua vida em humilhação e em medo.
E a culpa não é apenas dos que dispararam, que deram a ordem.
Culpados são todos aqueles que permanecem em SILÊNCIO.
Os que desviavam o olhar, vendo os equipamentos militares russos indo à Ucrânia.
Os culpados são todos aqueles quem os chamou, os ajudou e os assistiu.
Não importa se alimentavam aqueles animais nos postos de controlo ou curtiam os materiais separatistas nas redes sociais. Cada um deles é culpado.
E as mortes e sangue dos que morreram nesta guerra estão nas suas mãos.

Obrigado à todos os que naqueles dias lutaram ativamente nos seus postos de voluntários, médicos, cozinheiros, motoristas, ajudando aos residentes na zona leste de Mariupol. Obrigado à todos os ucranianos que não foram indiferentes, que se envolveram à distância, ajudando aos voluntários em Mariupol. Sem vocês, seria muito mais difícil e muito mais duro. Obrigado ao Evgen Sosnovsky pelas fotos (fonte).

1 comentário:

Anónimo disse...

Morreu Bolotov! Realmente, mexer com a Ucrânia não é um bom negócio. hehehe