segunda-feira, outubro 03, 2016

Roman Sushchenko: o 29º refém ucraniano do Kremlin

O jornalista ucraniano Roman Sushchenko foi preso na Rússia sob misteriosa acusação de “espionagem”. As organizações ucranianas de direitos humanos e seu advogado Mark Feygin acreditam que o caso continua com a tradição das repressões políticas contra os ucranianos da Rússia e pedem as organizações de jornalistas a exigir a sua libertação.
“É uma continuação do padrão de ações do governo russo em relação a Ucrânia. Os cidadãos ucranianos ou são capturados em território russo ou sequestrados no território ucraniano, eles são confrontados com acusações absurdas, pressão psicológica e mesmo a tortura para que eles “reconheçam” a sua culpa. Essas ações fazem parte de guerra da Rússia contra Ucrânia”, diz o comunicado das ONG´s ucranianas Centro dos Direitos Humanos e Centro de Liberdade Civis.

Roman Sushchenko foi detido em 30 de setembro de 2016, mas a imprensa russa só falou sobre a sua prisão em 2 de outubro. Até agora foi disponibilizado apenas um vídeo mudo, onde Suchshenko é visto sendo levado pelos corredores de uma prisão preventiva. A TV russa NTV (pró-Kremlin) informou que o FSB deteve “oficial da Direcção Geral de Inteligência da Ucrânia, coronel Roman Sushchenko”, no decorrer da alegada “ação de espionagem”. Mas Dmitry Peskov, o porta-voz do presidente russo, disse à imprensa que prisão fazia parte do “trabalho regular” dos serviços especiais e declarou que a possível razão da prisão é a falta de acreditação jornalística do Sushchenko, necessária aos jornalistas estrangeiros na Rússia.

Na realidade, Roman Sushchenko, o correspondente em França da agência noticiosa ucraniana Ukrinform desde 2010, estava na Rússia em uma visita privada aos parentes, ação que não exige nenhuma acreditação. Depois de detido, ao Suchchenko foi negada a possibilidade de entrar em contato com sua esposa, foi lhe negada a visita do Cônsul da Ucrânia em Moscovo e a mesma visita foi negada ao seu advogado – Mark Feygin.

Em 3 de Outubro o tribunal moscovita de Lefortovo decretou a prisão preventiva ao Roman Sushchenko por dois meses. Se Roman não for liberado imediatamente, ele poderá se tornar o refém № 29 do Kremlin da lista #LetMyPeopleGo. Atualmente, 28 ucranianos são presos por motivos políticos e detidos ilegalmente na Rússia. Nove deles estão em prisões russas e o resto na Crimeia ocupada.
De acordo com Halya Coynash do grupo russo dos Direitos Humanos “Memorial”, nos casos da maioria dos presos políticos ucranianos, os procedimentos judiciais decorrem às portas fechadas e é impossível investigar as acusações. Aos três outros ucranianos que também foram presos por acusações de espionagem – Viktor Shur, Valentyn Vyhivskyi e Yuriy Soloshenko, foram designados os advogados nomeados pelo FSB, eles eram torturados e levados, através de diversos meios de coerção para se declararem culpados.

Até agora, foi possível resgatar apenas alguns deles na troca por militares russos que foram capturados em território ucraniano ou em troca dos separatistas pró-russas. A maioria dos POW ucranianos permanece atrás das grades, alguns estão em terrível forma física e psicológica.
Finalmente Mark Feygin é advogado em pleno direito do Roman V. Sushchenko
O advogado russo Mark Feygin que anteriormente defendia a banda “Pussy Riot” e a piloto Nadiya Savchenko, desde o dia 3 de outubro representa os interesses do Roman Sushchenko (ao pedido da sua esposa e da Ukrinform) afirmou que a reação da comunidade jornalística é muito importante para assegurar a libertação de Roman: “A situação da prisão de Roman Sushchenko e as acusações contra ele são selvagens. Aqui, uma resposta rápida e consolidada da comunidade jornalista poderia desempenhar um grande papel – não só na Ucrânia, na Rússia, mas também na Europa e no mundo. Se haverá uma reação em massa adequada, eu não precisarei fazer o meu trabalho do advogado”, disse ele em uma entrevista ao Ukrinform.

De acordo com Feygin, em breve FSB irá tentar moldar a opinião pública para apoiar a sua versão falsa do caso, não só na Rússia, mas no mundo, e que isso precisa ser combatido. “Imaginaremos. Um jornalista trabalha em Paris por seis anos. Ele escreve sobre o “formato de Normandia”, sobre política, economia, cultura. E, depois, durante vários dias de sua visita aos parentes que vivem em Moscovo, eles o prendem e dizem que ele é um oficial da inteligência militar, especializado na Rússia. Mas se você anuncia este tipo de acusações graves, onde está pelo menos uma prova? Nada, excepto o vídeo com um homem em algemas”, se interroga Feygin.
Agência ucraniana Ukrinform chamou a detenção de seu correspondente de uma “provocação planeada” e do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia disse que o caso foi mais um passo na política da Rússia de “usar reféns políticos na sua agressão híbrida contra o nosso país”.

Iryna Gerashchenko, a 1ª vice-chefe do Parlamento ucraniano, instou a OSCE e o Conselho da Europa para responder a detenção dos jornalistas.

Na sequência de apelos da União Nacional de Jornalistas da Ucrânia, a Federação Internacional e Europeia de Jornalistas (IFJ-FEJ) exortou a Rússia a libertar Roman Sushchenko. O Secretário-geral da IFJ Anthony Bellanger disse: “Esta prisão não só viola todas as normas internacionais, mas também serve para minar a liberdade de imprensa. Ele segue um padrão preocupante de ataques a jornalistas ucranianos e exortamos as autoridades a libertarem o Sr. Sushchenko”.

Mogens Blicher Bjerregård, o presidente da FEJ disse: “Nós acreditamos que as acusações contra Roman são completamente fabricadas para silenciar a sua voz crítica. As autoridades devem libertá-lo imediatamente e deixá-lo chegar à sua família em segurança”.
Os Repórteres sem Fronteiras também pediram a Rússia de libertar Sushchenko.

Os cidadãos ucranianos estão inseguros à visitarem Rússia

Enquanto isso, as autoridades ucranianas alertam os ucranianos que visitam a Rússia que isso pode ser perigoso para eles. Oleksii Makeiev, o diretor político do MNE da Ucrânia disse em um tweet: “Visitar a Federação Russa não é seguro para os ucranianos: detenções arbitrárias, provocações na fronteira e no controlo aduaneiro, a tortura, a recusa de acesso consular...”

Em abril de 2016, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia formalmente advertiu os ucranianos sobre os perigos de visitarem a Rússia.

A reação da França

O jornal francês Le Monde publicou sobre o caso um artigo curto chamado “Un journaliste ukrainien arrêté à Moscou pour «espionnage»”: Kiev considère que l’arrestation de Roman Souchtchenko, correspondant à Paris de l’agence de presse Ukrinform, fait partie d’une volonté de la Russie d’utiliser des « otages politiques dans son agression hybride » contre l’Ukraine (ler mais em francês: http://www.lemonde.fr/europe/article/2016/10/03/un-journaliste-ukrainien-arrete-a-moscou-pour-espionnage_5007406_3214.html)

O politólogo e especialista da geopolítica, francês Alexandre Melnik escreveu um texto em apoio ao Roman Souchtchenko chamado Libérez Roman!

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