segunda-feira, junho 20, 2016

Grécia recebe Concílio pan-ortodoxo boicotado por Moscovo

O Patriarca Ecuménico Bartolomeu I de Constantinopla
Nos dias 19-26 de junho, na ilha grega de Creta, na cidade de  Heraclião, decorrerá o Concílio pan-ortodoxo, sob a liderança do Patriarca Ecuménico Bartolomeu I de Constantinopla, boicotado pela Igreja Ortodoxa Russa e pelos seus satélites.

O atual Concílio da liderança da igreja ortodoxa é histórica – os representantes das diversas Igrejas Ortodoxas se encontram juntos pela primeira vez desde a cisão da igreja que ocorreu há mais de 1200 anos atrás (desde 1054). No entanto, nas vésperas do início do Concílio, os representantes da Igreja Ortodoxa Russa (IOR), a Igreja Ortodoxa da Geórgia, da Bulgária e Patriarcado de Antioquia, leal ao presidente sírio, Bashar Al-Assad, se recusaram à tomar parte no encontro. Neste momento o Concílio conta com a participação dos mais de 170 bispos, informa a agência KNA.
Foto @GOA/DIMITRIOS PANAGOS
Apesar de, previamente concordar em participar no Concílio, no dia 13 de junho  Moscovo e os seus satélites decidiram boicotar a reunião magna das igrejas ortodoxas por causa de “algumas questões” que teme serem abordados no evento. Em resposta, o Patriarca Ecuménico, Primaz da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, Bartolomeu I disse que o Consílio pan-ortodoxo será realizado, apesar da recusa de Moscovo à participar nele. Os participantes do Consílio ortodoxo devem discutir seis temas: a relação da Igreja Ortodoxa com o resto do mundo cristão, jejum, casamento, a missão da Igreja no mundo moderno, a tutela dos ortodoxos na Diáspora, os meios da proclamação da autonomia da Igreja Ortodoxa. A sexta questão é importante para Ucrânia que pede Autocefalia (independência religiosa), querendo afastar-se da influência de Moscovo, escreve a página NV.ua

No dia 16 de junho, o Parlamento da Ucrânia aprovou por uma maioria de 245 votos um Apelo ao Patriarca Ecuménico Bartolomeu para conceder o poder Autocéfalo à Igreja Ortodoxa na Ucrânia (retirado no anos 1686 à favor de Moscovo).

As circunstâncias especiais que se criaram na vida da Ucrânia instaram nos à se dirigirem ao chefe da Santa Igreja de Constantinopla, o Patriarca Ecuménico... Nas circunstâncias atuais, o povo da Ucrânia já não aceita a ideia da unidade da Igreja com a Sua Beatitude o Patriarca Kirill de Moscovo, que não apenas não defendeu os cristãos ortodoxos da Ucrânia face à agressão russa, mas também se tornou um dos principais ideólogos do “mundo russo” e, consequentemente, um dos arquitetos da guerra híbrida atual contra a Ucrânia”, – diz a declaração.

O documento nota que o estatuto da Autocefália da Igreja Ortodoxa da Ucrânia poderá se tornar a base para superar o cisma da igreja que agora existe no país que possui três principais igrejas ortodoxas. O Parlamento também pede para convocar sob os auspícios do Patriarcado Ecuménico o Concílio pan-ucraniano da unidade ortodoxa que decidiria todas as questões controversas e uniria a igreja ortodoxa ucraniana, informa Ukrpress.info

Como informa no seu Facebook o Arcebispo da Igreja Ortodoxa da Ucrânia – Patriarcado de Kyiv, Arcebispo de Chernihiv e de Nizhyn, o chefe do Departamento de Informação do Patriarcado de Kyiv, Yevstratiy (Zoria), 10, de 14 de primatas das igrejas ortodoxas vieram à ilha de Creta para participar no Grande Consílio.
Estão presentes estão o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I; o Metropolita Sawa de Varsóvia (Igreja Ortodoxa Polaca); o Arcebispo de Chipre Chrysostomos; o Patriarca Sérvio Irineu; o Patriarca Theodore da Alexandria; o Patriarca Theophilos de Jerusalém; o Patriarca Daniel da Roménia; o Arcebispo Jerome de Atenas (Igreja Ortodoxa da Grécia); o Arcebispo Anastasios da Albânia; o Metropolita de Prešov Rostislav (Igreja Ortodoxa Checa e Eslovaca), informou Yevstratiy (Zoria).

Blogueiro: estamos perante uma situação de significado muito especial. A Igreja Ortodoxa Russa se rebeldia abertamente contra a primazia da Igreja Ortodoxa Ecuménica, exerce a pressão separatista sobre outras igrejas ortodoxas, o que poderá levar à uma nova cisão no mundo ortodoxo. A recusa da igreja Ecuménica à ceder a chantagem moscovita é inevitável, desde a démarche do patriarca Kirill em se encontrar com o Papa Francisco, em alegada representação do mundo ortodoxo, posição que nunca ocupou, não ocupa e nunca poderá ocupar na hierarquia da igreja ortodoxa Ecuménica.
A propaganda anti-Concílio distribuída em Moscovo
Em termos profanos, estamos perante um caso de redistribuição do poder da influência geopolítica na ala ortodoxa do mundo cristão. Caso a Igreja ortodoxa ucraniana receber a sua Autocefália, isso é, a independência do Patriarcado de Moscovo, Ucrânia ortodoxa passará à subordinação direta de Constantinopla e, assim, torna-se igual entre outras igrejas ortodoxas iguais. De uma vez por todos será reparada a injustiça contra a Igreja Ortodoxa da Ucrânia, cometida mais de 300 anos atrás.

2 comentários:

Anónimo disse...

So algumas duvidas: por que a igreja da Georgia se recusou a participar? Como fica a situação de Belarus?

Jest nas Wielu disse...

1) Igreja da Geórgia não participa por a) pressão da IOR; b) pois teme que no Concílio seja discutida a questão da ogreja da Abecásia que quer a Autocefália;
2) Belarus: sendo ditador, Lukashenka diz uma coisa, faz outra e pensa a terceira, ultimamente ele colabora com Ucrânia e tenta não ceder à pressão russa, mandando as frases à soviética para que a sua base de apoio, os mais idosos com alto grau do saudosismo soviético...