quinta-feira, novembro 05, 2015

Os “peritos” e “politólogos” ocidentais da TV russa

Diversas personagens ocidentais costumam aparecer na imprensa e na TV russas, na qualidade deanalistasepolitólogos”. São usados pela máquina de propaganda estatal, ao nível local e internacional, para legitimar as suas teses: não somos nós os autores das teorias de conspiração antiamericanas, são as ideias originais dos nossos peritos ocidentais.

O grupo não é muito largo, eles transitam de canal para o canal, de reportagem à reportagem e de um programa para outro. São apresentados ao público como “peritos”, “analistas” ou mesmo “jornalistas e escritores”. Muitos destes “analistas” são loucos urbanos, vigaristas ou quase nazis que recebem, graças à RT ou Sputnik, a possibilidade de emitir as suas marginais teorias de conspiração para uma audiência global, embora também marginal.

Mas de onde aparecem todos eles? Como e porque os determinados “peritos” são convidados às televisões russas para falar sobre as maquinações e malvadezas da América? Vamos tentar analisá-lo nos exemplos concretos e práticos.   

Vejamos o caso do William Engdahl, que diz que «poder dos EUA construiu o plano inteiro para a demonização da Rússia». Engdahl é autor dos diversos livros, artigos e palestras sobre os perigos dos produtos geneticamente modificados; é defensor fervoroso da teoria que oaquecimento global é um mito” e que todos os acontecimentos globais no mundo, desde o derrube do Xá do Irão em 1979 até a Primavera Árabe de 2011 foram organizados pela CIA. É um convidado habitual do canal Russia Today (RT), nomeadamente esteve presente no programa “Truthseeker” em julho de 2014, que lançou a calúnia anti-ucraniana do “menino crucificado” e que foi retirada do ar, após as diversas queixas dos telespetadores.
Na TV russa Engdahl é apresentado ora como “escritor e politólogo”, ora como “jornalista investigativo”. Além disso, ele é autor residente do “Centro para Pesquisa de Globalização” (Centre for Research on Globalisation), é ativo na página do centro, globalresearch.ca, que é uma fonte inesgotável dos “analistas” e “politólogos” para a TV russa. O fundador do centro, Michel Chossudovsky é membro do conselho editorial da revista italiana “Geopolitica”, cujo editor, Tiberio Graziani, por sua vez, é membro do conselho superior do Movimento internacional eurasiático, encabeçado pelo neofascista russo, Alexander Dugin.

(No dia 6 de maio de 2014, na entrevista intitulada “A guerra começou! Pedir a paz é uma traição!”, Alexander Dugin, na altura ainda professor da Universidade Estatal de Moscovo “M. V. Lomonosov”, exortava à matar os ucranianos, literalmente: “Matar, matar, matar. Mais nenhumas conversas deverão haver. Como professor, eu acho assim” (fonte)).

É de supor que Engdahl conhece Dugin pessoalmente e através deste consegue o acesso privilegiado aos gabinetes e mentes das chefias das televisões russas, e não aparece lá pela mera iniciativa pessoal de algum editor de plantão.
Manuel Ochsenreiter, o editor da revista neo-nazi alemã "Zuerst!"
Outro exemplo, é Manuel Ochsenreiter (1976), presença regular na RT e outros canais russos na qualidade do “jornalista”. É editor da revista de extrema-direita alemã, Zuerst!, que não esconde as suas simpatias pelo nazismo. Além de ser o “analista” habitual nas televisões russas, ele participou, como “observador”, nas “eleições” na “república popular de Luhansk”. Que, diz lutar contra a “agressão da junta fascista de Kiev”, mas não dispense o apoio do editor nazi que até 2011 exortava as “vitórias saudosas” do Wehrmacht nas páginas da revista “Deutsche Militärzeitschrift”.
A revista "Deutsche Militarzeitschrift" editada até 2011 pelo Ochsenreiter 
O paciente Jeffrey Steinberg é um dos autores da revista “Executive Intelligence Review”, publicada pelo Movimento LaRouche” (LaRouche movement). Omovimento” é uma seita obscura com os rituais bastante macabros. Os membros do movimento defendem a ideia do que MI-6 matou John Kennedy, a rainha Elizabeth II controla pessoalmente (!) o cartel de cocaína e a princesa Diana foi assassinada pelos serviços secretos britânicos à mando do Filipe, Duque de Edimburgo. A revista do movimento publica permanentemente as capas como esta:
"Agir agora para parar o plano de saúde nazi do Obama!" 
O movimento possui um filial na Rússia, mantendo uma página na Internet que defende o delírio habitual: “os curadores britânicos, apoiantes do genocídio, organizaram o golpe do estado imperial americano na Ucrânia”.
Lyndon LaRouche e Sergey Glazyev numa conferência de imprensa em 2001
O próprio Lyndon LaRouche é entrevistado regularmente na RT desde 2008. LaRouche é amigo pessoal e de longa data do Sergey Glazyev, o conselheiro do presidente Putin sobre a integração económica regional.
O partido xenófobo russo “Rodina” (Pátria), onde milita Glazyev, é uma fonte inesgotável dos “peritos” ocidentais para a TV russa. Por exemplo, britânico John Laughland é citado pela imprensa russa, pelo menos, desde 2002. Agora Laughland é apresentado como diretor dos programas de pesquisa do Instituto da Democracia e Cooperação ( The Institute of Democracy and Cooperation / Institut de la Démocratie et de la Coopération), instituição, supostamente séria com sede em Paris. Com apenas um pormenor curioso, a diretora do instituto é “anti-globalista” russa Natalya Narochnitskaya, deputada da Duma estatal russa (entre 2003 à 2007), pelo partido “Rodina” e nomeada ao cargo da diretora do IDC pessoalmente pelo presidente Putin.
Laughland e Narochnitskaya: amigos de longa data
Afinal, “Instituto” é uma GONGO, criada em 2007 e financiada pela Rússia para “monitoramento das violações dos direitos humanos nos Estados Unidos e na Europa” (Sic!).

Ler o artigo completo (em russo), áudio e vídeo:

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, mas são pessoas sem nenhuma credibilidade no Ocidente. Duvido que sejam ligados a uma (boa)universidade. São na sua maioria pseudo-intelectuais de extrema-direita.