sábado, outubro 24, 2015

Budapeste de 1956: a cidade da esperança e de perda

A Revolução Húngara de 1956 foi uma revolta popular contra as políticas comunistas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética. A resistência durou de 23 de outubro até 10 de novembro de 1956. A revolução foi a primeira grande ameaça ao controlo e domínio soviético sobre a Europa Central e Oriental, desde o fim da II Guerra Mundial. Apesar do fracasso da revolução, era altamente influente e prenunciou a queda da União Soviética.

por: Marion SMITH
O Homem do Ano na escolha da revista Time
Por alguns dias, em 1956, Budapeste se tornou a capital da liberdade. A cidade, que foi demolida e quase destruída no confronto militar implacável entre as tropas soviéticas e nazis na II Guerra Mundial, tornou-se uma cidade de esperança e de coração partido em 1956. Espírito patriótico da nação húngara e desejo de auto governação quebrou o jugo do império soviético na Hungria, mesmo que apenas por alguns dias.
Ruszkik haza! — Russos, vão para casa! — exigia uma multidão crescente de cerca de 300.000 no coração da cidade, muitos deles jovens, que tinham tudo a perder. Húngaros começaram a arrancar as estrelas vermelhas de edifícios, eles derrubaram a estátua do Estaline na frente do Edifício da Radiodifusão Húngara, retiravam o símbolo soviético da bandeira húngara. Os retratos emoldurados de Lenine, Marx e Estaline foram colocados na calçada e queimados em fogueiras. As chamas de liberdade iluminaram as noites.
O contingente militar soviético estacionado na Hungria era consideravelmente grande. Deveria ter sido relativamente fácil vencer aquilo que o regime comunista chamou de “contra-revolução fascista”. Mas não era. Moscovo, subestimou a resistência do povo e a determinação dos húngaros para lutar. Pela sua liberdade, pela sua família, pela sua vida.
Pal Pruck (15) o mais novo insurgente de Budapeste
Do Ocidente, os húngaros receberam simpatia e orações. Mas não muito mais. E, no entanto, estes, na sua maioria jovens patriotas conseguiram empurrar os tanques soviéticos aos subúrbios de Budapeste. A Hungria livre e democrática parecia estar ao alcance.
Os insurgentes nas ruas de Budapeste
Mas o Bureau político comunista em Moscovo não estava pronto para o rompimento da Cortina de Ferro e em 4 de novembro, os tanques soviéticos avançaram contra a cidade. Trinta mil soldados e mais de mil tanques, conseguiram vencer os civis de Budapeste, levemente armados.
Os soviéticos impuseram à Hungria um novo líder: János Kádár. Ele anunciou na rádio que o “Governo Húngaro Revolucionário de operários e camponeses” foi formado para proteger as “conquistas socialistas” na Hungria. E as pessoas que discordavam, as pessoas que fizeram parte na luta pela liberdade tiveram que pagar o preço. Para muitos o preço final. Alguns foram simplesmente mortos nas ruas, alguns desapareceram no meio da noite, passando anos nas celas da prisão da rua Andrássy 60, onde hoje, a Casa do Terror mostra publicamente a brutalidade da polícia secreta comunista.
Jósef Tibor Fejes (1934-1959), o primeiro insurgente do mundo que capturou AK-47.
Fuzilado pelos comunistas aos 25 anos em 9 de abril de 1959.
Embora o sistema de János Kádár foi apelidado de “comunismo de goulash” pelas suas políticas mais relaxadas que permitiram alguma dissidência; o sistema de partido único, a censura política, a escassez de alimentos de uma economia centralmente planificada, e coerção arbitrária dos cidadãos por funcionários do Estado permaneceu até os últimos dias do regime.
Quase sessenta anos após a revolução húngara, e mais de 25 anos após o fim do regime comunista, é mais importante do que nunca lembrar que o comunismo não é uma bela utopia. Foi e é uma ideologia que permite a tirania. Os regimes comunistas mataram sistematicamente e em todos os lugares uma parte de seu próprio povo, como uma questão de política em tempos de paz, negaram aos cidadãos os seus direitos básicos, roubaram a sua comida e o seu trabalho, e despedaçaram as famílias para preservar o estado policial.
Manifestação pacífica das mulheres húngaras à exigirem a liberdade
O êxodo em massa de dissidentes políticos da Hungria nos dias seguintes à revolução de 1956 revelou a verdadeira intolerância do “sonho socialista”. Mas não devemos pensar que a queda da União Soviética significou o “fim da história”, ou mesmo o fim do comunismo. Como tinha dito Charles de Gaulle, o ex-presidente francês: “Estaline não desapareceu no passado, ele se dissolveu no futuro”. Neste mesmo verão, as novas estátuas de Stalin foram erguidas em várias cidades russas pela iniciativa do Partido Comunista da federação russa, cujo líder prometeu novas estátuas para a cidade de Irkutsk, na Sibéria e para o leste (ocupado) da Ucrânia.
Budapeste 1956 foto@arquivo
Em Donetsk, na Ucrânia, onde a União Soviética foi responsável pela morte de milhões de ucranianos no período de inanição forçada conhecida como Holodomor, um novo culto de Stalin está em ascensão com novos cartazes de rua do assassino sangrento, agora cada vez mais em exibição.
Donetsk, Ucrânia oupada, 2015
Rússia está ansiosa para mostrar a bandeira vermelha com foice e o martelo como um sinal de glória do passado em eventos desportivos, desde os Jogos Olímpicos de Sochi até os Campeonatos do Mundo de FINA, em Kazan. Tudo isto, enquanto as autoridades russas fecham os arquivos da era soviética, emendam os livros infantis e assediam ou prendem os historiadores ou jornalistas que se atrevem a dizer a verdade sobre a vida na União Soviética.

A simples lição da Guerra Fria é que não há absolutamente nada de romântico, bonito ou invejável na utopia comunista, nem os sistemas socialistas se importam com a promessa de nos levar até lá.

Ler o artigo completo em inglês:

Blogueiro: entre 2.500 à 3.000 civis húngaros: homens, mulheres, crianças, foram mortos durante as três semanas da Revolução. A revolta foi esmagada. Mas as ondulações da revolta, grandes e pequenas, desde a Primavera de Praga em 1968 até o movimento sindical “Solidariedade” da Polónia na década de 1980, eram amplas e de longa duração.
A revista “Life” e o fotógrafo Michael Rougier estavam presentes na Hungria para contar ao mundo os acontecimentos daqueles dias: algumas fotos não são aconselhadas às pessoas mais sensíveis.

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