segunda-feira, outubro 12, 2015

Belarus: a 5ª vitória do “lukashismo”

Tudo indica que pela quinta vez e de modo previsível as eleições na Belarus foram ganhos pelo “último ditador da Europa” e marechal (Sic!), Aliaxander Lukashenka. O exit-poll, conduzido por uma GONGO e divulgado pela TV estatal, dá 84,1% ao Lukashenka e 5,2% ao 2º candidato mais votado (fonte).

Ideologia do “lukashismo”
1975: Lukashenka no exército sovético da guarda-fronteira
“Ao longo dos anos do seu reinado, Lukashenka criou a ideologia especial de “lukashismo”, uma mistura de comunismo, fascismo e do populismo ao estilo latino-americano. E como o demagogo, como um tipo populista latino-americano, Lukashenka possui bastante talento”, – diz Anatoly Lebedko, o chefe do Partido Cívico Unido (em 1994-1995 fez parte da equipa de Lukashenka, desde aí, na oposição).

Os três pilares do “lukashismo”
1994: Lukashenka presidente da Balarus pela 1ª vez
O regime do Lukashenka se baseia em três pilares. Primeiro é o medo. Este é o principal aliado de Aliaxander Lukashenka. Na União Soviética o medo fazia milagres. E Lukashenka adotou este fator da União Soviética e o explora muito. As pessoas com medo são incapazes de mudar. No máximo fazem murmúrios na cozinha. O segundo pilar é a dependência económica e financeira. A grande maioria das pessoas depende do Estado e pessoalmente do Lukashenka. Pensões, benefícios, preferências nos negócios, tudo isso o cidadão recebe de uma única pessoa. E quando você é financeiramente dependente, em seguida, isso, mais uma vez, o limita muito. E terceiro pilar é o fator russo. Nos melhores tempos, 15% do PIB da Belarus era formado por subvenções directas da Rússia. 
2002: Lukashenka e Putin
Devemos acrescentar inúmeros empréstimos, energia extremamente barata, o mercado russo aberto aos produtores da Belarus. Retirem qualquer um destes pilares e não existirá mais o “fenómeno do Lukashenka”. Ao mesmo tempo Lukashenka trouxe à sociedade a retórica esquerdista da justiça, da igualdade, da criação do vertical do poder, incluindo na economia. Ele criou a ideologia de “copos e torresmos”, “mas pelo menos não estamos em guerra”. Lukashenka conseguiu colocar o país numa grande fila à volta da sua residência. E todas as esperanças de obter algo – desde o aumento da pensão e até a possibilidade de fazer os negócios estão ligados à ele, – explica Lebedko.

A observadora sem medo

A observadora independente nas eleições da Belarus (apenas 0,046% de todos os observadores representam os partidos de oposição), Natalya Basaliga (Horiachko) não se levantou e não apertou a mão do ditador, quando este visitou a assembleia de voto № 1, onde está inscrito como eleitor.
Lukashenka na assembleia de voto em 11/10/2015
Considero que ele, como funcionário público, não criou as condições para o desenvolvimento da Belarus. Assim, mostrei à ele a atitude das pessoas, não aqueles, que ano após ano o lambem, mas as pessoas comuns da Belarus. Não tive medo. Quando eu estava sozinha na Praça de Outubro (em Mensk) com a bandeira branca-vermelha-branca (bandeira nacional proibida em Belarus) e uma bola, onde estava o retrato riscado do Lukashenka, um dos jornalistas fotografou-me e publicou a foto com uma frase: As autoridades têm medo daqueles que não têm medo e não amam aqueles que os amam”.
A melhor distância permitida entre a contagem de votos e os observadores
Natalya Horiachko conta que os “observadores” também se levantaram quando a mesma assembleia foi visitada pelo filho mais velho do Lukashenka, Viktor (1975), assessor do pai nas questões da segurança nacional e membro do Conselho de Segurança da Belarus.
A esposa legítima do Lukashenka, Galina com a família do seu filho, Viktor
A “transparência da votação” pode ser avaliada pela seguinte estatística. Na assembleia de voto № 1 são registados 2681 eleitores, os observadores independentes contaram 1368 votantes (um pouco mais de 50%). Os números oficiais apontam que votaram 2053 pessoas, destes, 1403, escolheram Lukashenka (fonte).

O “perigo ucraniano”
O canal estatal “Belarus-1” assusta os seus telespectadores com a notícia do que o serviço de guarda fronteira não deixou entrar no país “cerca de 200 cidadãos da Ucrânia, alguns dos quais traziam os fardamentos militares camuflados, tacos de madeira, cassetetes e armas traumáticas”. Em 2006, a propaganda estatal apostava na paranóia anti-polaca (fonte).

O circo político
Este leitão foi vendido na assembleia de voto número 1, a "presidencial"
As redes sociais do país já classificaram essas eleições de circo político. Nas assembleias de voto e nas suas imediações comeu-se, bebeu-se, cantou-se e dançou-se e venderam-se os alimentos aos preços abaixo do mercado.

Os opinion makers da Belarus independente

O jornalista português João de Almeida Dias, aponta as pessoas com quem ele conviveu quando escreveu a série de reportagens sobre a vida naquele país da Europa, onde “eles todos vão continuar a resistir. São, por isso, melhores do que todos nós. E uma lição tremenda para quem ainda dá valor à Democracia, com D maiúsculo” (blogueiro: e vejam o filme sobre a falsificação eleitoral e a brutalidade policial nas eleições de 2006):
www.youtube.com/watch?v=ImksFkjXHt4
Ales Bialiatski — um homem que passou 1052 dias na prisão por defender que na Europa, tal como em qualquer outra parte do mundo, os Direitos Humanos não podem ser um tema secundário. Mihas Yanchuk – todos os dias mantém de pé o único canal de televisão independente da Belarus, de forma clandestina e a partir de um apartamento escondido. Alesia Litvinouskaja e Victor Martinovich – tornam claro que uma das formas mais eficazes de uma ditadura prevalecer é mudando a língua e a maneira como falamos. E, por fim, Lavon Volski – músico de primeira linha da Belarus, atirado para o fundo da sala — e para a lista negra do regime — por ser um homem livre (segue a sua canção “Eu nasci aqui).
Ler as reportagens do João de Almeida:

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