quinta-feira, janeiro 29, 2015

Batalha de Kruty: as lições à retirar

No dia 29 de janeiro de 1918, nos arredores da vila de Kruty, na província ucraniana de Chernihiv, decorreu a batalha desigual entre armada bolchevique e os voluntários ucranianos. Cerca de 400 jovens ucranianos foram defender a cidade de Kyiv face aos cerca de 4.000 bolcheviques russos, mas se transformaram no símbolo de auto-sacrifício em defesa da Ucrânia.
"Caíram 300, se levantam milhões".
Cartaz de OUN-M, 1938. Autor: Mykhaylo Mykhaylevych
No dia 5 de dezembro de 1917, o governo comunista russo, encabeçado pelo Vladimir Ulianov (Lenine), declarou a guerra à República Popular da Ucrânia (UNR), de inspiração socialista. Nos meados do mesmo mês, começaram os combates, bolcheviques não aceitavam a existência da Ucrânia independente, apostando na difusão da “revolução mundial” (hoje em dia no “mundo russo”), ao território da Ucrânia.
Os jovens combatentes ucranianos antes da batalha
No dia 12 de dezembro foi proclamada a Ucrânia Soviética, com a capital na cidade de Kharkiv, que imediatamente começa receber a ajuda militar da Rússia bolchevique (os atuais “comboios humanitários”). Alem disso, uma armada de 20.000 homens, comandada pelo Antonov-Ovseenko (fuzilado pelo Estaline em 1939) invadiu o leste da Ucrânia, do sudeste avançava o grupo do Mikhail Muravyov (liquidado pelos bolcheviques no mesmo 1918).

De quase 300.000 militares favoráveis à Ucrânia que a república possuía no verão de 1917, restavam cerca de 15.000 homens, fruto de desmoralização, cansaço e o trabalho dos agitadores e propagandistas bolcheviques que conseguiam passar as unidade inteiras ucranianas para o seu lado. Nesta situação, o governo ucraniano, a Rada Central, contava apenas com jovens estudantes de Kyiv, à quem confiaram a defesa da cidade capital.
Ihor Loskiy
Um dos participantes na batalha, Ihor Loskiy, em 1918 estudante do Ginásio de Cyrilo e Metódio de Kyiv recorda: “Apenas no último momento, quando o desastre já era inevitável, alguns estadistas ucranianos começaram às pressas criar novas unidades militares, mas já era tarde”. 

Apenas 3 semanas antes da batalha foi criada a Unidade (Kurin) Estudantil dos Atiradores de Sich. A decisão da sua criação partiu da reunião magna dos estudantes da Universidade de São Volodymyr (atualmente a Universidade Nacional “Taras Shevchenko”) e da Universidade Popular de Kyiv. Um pouco mais de 100 jovens se inscreveram na unidade, os “desertores” eram alvos do boicote da classe estudantil.
Apesar de Rada Central possuir a munição e equipamentos em quantidade suficiente, os estudantes receberam piores uniformes e espingardas velhas e enferrujadas. A própria batalha também mostrou a desorganização das chefias ucranianas: na retirada, o estado-maior levou consigo o vagão com a munição para as espingardas e canhões. Os estudantes e cossacos livres lutaram até o fim, mas a batalha foi perdida.
Não muito longe, estava estacionada uma forte unidade militar ucraniana, comandada pelo Symon Petliura, mas recebendo a notícia da sublevação comunista na fábrica “Arsenal” de Kyiv, ele se dirigiu à capital, considerando que aquele era um perigo maior.
Matviy Danyliuk, último veterano ucraniano da Batalha de Kruty,
morreu em 1994 aos 103 anos.
Na retirada ucraniana, perdendo a orientação no terreno, uma unidade estudantil entrou diretamente em Kruty, já tomada pelos bolcheviques. Chateado com as perdas entre os efetivos (a unidade bolchevique perdeu na ofensiva cerca de 300 pessoas), o seu comandante, Yegor Popov, ordenou o fuzilamento dos estudantes ucranianos. As testemunhas contam que primeiro os 27 ucranianos foram alvos de torturas e maus-tratos, depois foram fuzilados. O estudante da 7ª classe, Hryhoriy Pipskiy, foi o primeiro que começou cantar o Hino nacional da Ucrânia, os restantes estudantes o seguiram (FONTE).
Hryhoriy Pipskiy
Em memória dos Trinta

No túmulo de Askold
Enterraram-os –
Trinta mártires ucranianos
Jovens, gloriosos...

No túmulo de Askold
Flor ucraniana! –
Na sangrenta na estrada,
Ao mundo iremos.

Atreveu contra quem levantar
A traiçoeira mão?
Floresça o sol, brinca vento
E rio Dnipro...

Contra quem começou Caim?
Deus punirá! –
Eles amaram acima de tudo
A sua terra amada.

Morreram no Novo Testamento
Com a glória dos santos. –
No túmulo de Askold
Enterraram-os.

Pavlo Tychyna no jornal “Nova Rada”, Kyiv, 1918.
Transladação de corpos de mártires ucranianos para o túmulo de Askold, na margem direita do rio Dnipro em Kyiv, 1918
Homenagens atuais e o monumento aos heróis de Kruty  

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