quarta-feira, dezembro 10, 2014

Yana Zinkevych: o anjo da vida

Recentemente, o Ministério da Defesa da Ucrânia, condecorou a chefe do serviço médico do Corpo Voluntário Ucraniano do Setor da Direita (DUK PS), Yana Zinkevych, com a condecoração “Pela Coragem Militar”. A jovem de apenas 19 (!) anos salvou a vida e retirou do campo de batalha os 128 feridos.

Yana também foi uma das primeiras voluntárias do Setor da Direita que foram servir na OAT no leste do país. Neste momento, Yana comanda um grupo de 25 voluntários homens que diariamente salvam os militares e os voluntários ucranianos, informa 0362.ua

por: Lenina Bychkovska e Oleksandra Bychkovska (versão curta, o título é de responsabilidade deste blogue)

Em abril de 2014, quando o batalhão do Setor da Direita estava sendo criado, Yana Zinkevych era a única mulher médica da unidade. Os combatentes ficavam surpreendidos, o que ela fará quando ver o sangue e a lama? Mas logo mudaram de sua opinião. Pequena, pesando pouco mais de 50 quilos, Yana destemidamente carregava nas costas os homens feridos debaixo do tiroteio, levando os ao centro médico, para onde são transferidos todos os feridos do aeroporto de Donetsk e das vilas circunvizinhas.

— Na nossa zona de combates funciona uma única unidade médica, — explica Yana Zinkevych. — Todos os feridos da frente dos combates são retirados pelos nossos enfermeiros, depois, os médicos os transferem aos outros hospitais. Retirando os feridos do campo de batalha, eu tiro, propositadamente, as suas insígnias militares. Pois, os franco-atiradores (terroristas), visam, principalmente, os comandantes e os médicos. Se estes estarão mortos, então não haverá ninguém para liderar e salvar as vidas de militares. Os terroristas violam todas as convenções internacionais existentes que proíbem o assassinato de funcionários de saúde. Mesmo os nazis não atiravam contra os médicos, permitindo-lhes retirar do campo de batalha os feridos e os mortos. Mas os mercenários de Putin são do piorio! Antes desta guerra eu achava que nada é pior do que o fascismo. Acontece, que estava errada.

Conta, como é que chegas aos feridos.
— Consoante a sorte. Às vezes vamos de carro, geralmente corremos ... ou rastejamos. É muito pesado quando os feridos são muitos, e todos estão à espera de ajuda. Pedem, suplicam, gemem. É claro, antes de tudo, vou ter com os feridos graves. Se o homem está ferido num membro, mas geme alto, será último à ser atendido. Eu sei que ele pode aguentar, agora é precisa salvar aqueles que estão deitados sem fazer o barulho, e quase sem respirar.

O que tu fazes mais vezes, diretamente no campo de batalha?
— Retiro os estilhaços, cozo os cortes. Mais complicado é tratar ferimentos de bala, mas mesmo assim, resolvo. Basicamente, com anestesia local. Acontece que por vezes não há um analgésico à mão ou não pode ser aplicado. Então, a operação tem de ser feita sem anestesia. Os rapazes gritam os palavrões de tanta dor, mas eu ... estou contente – significa que ele está consciente! Se não parar o sangramento, o combatente não conseguirá chegar ao hospital.

Mas como tu consegues? Tu não és a médica formada?
— Após terminar a escola, eu estava me preparando para entrar na faculdade de medicina, marrava a biologia e anatomia, fez curso de cuidados médicos primários. Pensei que seria útil nos exames. Mas a guerra interrompeu tudo, os estudos tiveram de ser adiados. Por isso, primeiramente aprendi as habilidades de cirurgia, literalmente, na prática. Se o ferido precisar de ajuda, mas o especialistas estiver longe, inevitavelmente, se tornas um anestesista, e cirurgião, e terapeuta.
Yana no segundo plano, foto do seu arquivo pessoal
A jovem diz que já não se assusta com as explosões próximas dos obuses, ficou acostumada. Durante os combates não sente medo, apenas o foco. Especialmente quando vê o homem sangrando, necessitando da sua ajuda imediata. Os pais da Yana tiveram que aceitar o facto de que a sua única filha foi para a guerra. Às vezes, ela ligava para a mãe, dizendo a localidade em que se encontrava, e uma hora depois, a mãe via nas notícias da TV que a vila foi destruída com os (mísseis) “Grad”. Felizmente, o batalhão sempre conseguiu mudar as sua posições.

Desde 16 anos Yana viaja, estive nos Cárpatos, onde viveu sozinha na floresta por cerca de um mês. Primeiro, comia o que estava na sua mochila, e depois procurava os alimentos na mata. Experimentou o turismo extremo e a orientação. Isso também foi útil na guerra.

Ela acredita que a guerra irá durar por mais dois ou três anos. Quando dissemos que tudo pode acabar muito mais cedo – por exemplo, na primavera (de 2015), ela apenas sorriu melancolicamente.

— Eu teria compartilhado essa alegria com todos – disse Yana. — Mas aqui, na frente de batalha, tudo é mais claro. Até agora, a Rússia apenas está intensificando a sua presença na nossa terra. Na parte ocupada das regiões de Donetsk e Luhansk aumenta a quantidade dos equipamentos militares e o número das tropas inimigas. A conclusão é óbvia: a guerra será prolongada. Portanto, os nossos militares continuam à reforçar as suas posições e as linhas da defesa, constroem perímetros blindados, abrigos dos equipamentos.

Precisamos, custe o que custar, conter o avanço dos profissionais militares do Putin. Combate-los é muito mais difícil do que os terroristas habituais. Se não for isso, estaríamos esquecido essa guerra há muito tempo, recuperando a antiga fronteira ucraniana, especialmente na Crimeia.

Diga, é difícil comandar os homens? Os seus subordinados da equipa médica, mudam muitas vezes?
— Tudo acontece, às vezes há que levantar a voz. Talvez à alguém, o orgulho não permite obedecer à mulher, que por cima mais nova do que ele. Talvez (alguém) estaria ressentido, mas apenas em tempo de paz. Após as férias militares, há quem não se atreve à voltar à guerra, há quem a esposa não deixa, ou o filho ficou sem a mãe. Eu entendo essas pessoas.

Quantos combatentes feridos você retirou do campo de batalha?
— Uma centena e meia, talvez um pouco mais. Primeiro, recordava todas as caras, agora já não. O número total de todos que foram salvos pela nossa unidade é ainda mais difícil de calcular. Agora a situação agravou-se, há mais feridos, aumenta a carga de trabalhos. Atuamos quase em toda a região de Donetsk.

Com a aproximação do tempo frio, muitos ficam constipados. Portanto, há uma necessidade de diversos medicamentos, incluindo os para coração. Temos quase sempre algodão e água oxigenada em abundância, mas apenas com isso não se curam as pessoas. Então, agora uma das prioridades é estabelecer um sistema de abastecimento. Decidimos actualizar a lista de medicamentos necessários que será divulgada nas redes sociais e nas sedes regionais do “Setor da Direita”. Precisamos e muito, de roupas quentes, botas de inverno, porque os rapazes já mostram os sinais de “doença das trincheiras”. E ainda precisamos de cobertores e colchões, geradores à diesel, fogões, alimentos.

[...]

Yana explica que na guerra não se pode dar ao luxo de construir um relacionamento com uma pessoa próxima.

— Se estiver sempre pensando sobre o amado, isso me distrairá do meu trabalho principal, – explica ela. — Deus livre que lhe aconteça algo, você ficará afetada por bastante tempo. E os feridos esperam de mim. Por isso, todas as relações, melhor que sejam adiadas ao tempo da paz.

Como você consegue resolver o problema da higiene pessoal?
— Na guerra o banho é uma festa para qualquer combatente, já para não falar de mulheres. Me salvam os lencinhos húmidos. Muitas vezes, eles substituem, quer o chuveiro, quer o banho. Chegam os frios – o segundo problema das mulheres na guerra. Tentarei amar os frios, não há alternativa. Se houver um fogão de aquecimento é muito bem, se não haver, apanharei o frio, tal como todos os outros.
Já foste ferida?
— Por enquanto Deus me poupou. Embora, muitas vezes as balas raspavam as roupas. Intuitivamente, sinto quando sou alvo do franco-atirador, mas continuo a fazer o meu trabalho. Já aprendi o enganar, ziguezaguear. Geralmente, sofrem os novatos. Por exemplo, um combatente da minha unidade médica foi ferido no seu primeiro combate. O nosso SUV foi atingido por uma mina, e os fragmentos estilhaçaram ambas as suas pernas. O mais importante, ele sobreviveu, agora está no hospital.

Ainda pensas em se graduar como médica?
— Obrigatoriamente! Este é o meu segundo sonho. O primeiro – que acabe a guerra. Estarei aqui até a vitória, não tenho a outra escolha. Se hoje não parar o inimigo aqui, na região de Donetsk, amanhã ele poderá estar em minha cidade natal, em Rivne.

Fontes:
http://espreso.tv/article/2014/09/12/chomu_ukrayinski_zhinky_vidmovlyayutsya_vid_myrnoho_zhyttya_ta_yidut_voyuvaty_na_donbas (em ucraniano)

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