quarta-feira, dezembro 31, 2014

Navalny e a revolução de “salada russa”

"Moscovo para os moscovitas"
No dia 30 de dezembro, o influente blogueiro e advogado russo, opositor ao regime do Putin, Alexei Navalny, foi condenado à três anos e meio de prisão, com pena suspensa, pela alegada prática de crimes económicos.
Os irmãos Navalny: despedida...
Navalny, político populista, que combina a retórica anti-corrupção com a do nacionalismo russo, viu a leitura da sentença antecipada, inicialmente essa foi agendada para meados de janeiro de 2015. Tudo, para impedir que os seus apoiantes protestem contra o julgamento com as motivações claramente políticas. No entanto, o atual poder político russo usou contra Navalny um clássico esquema soviético: tomada de reféns (eram fuzilados na época de Lenine; fuzilados e presos no Gulag com Estaline e apenas presos com Brejnev). O seu irmão Oleg, co-réu no mesmo processo, foi condenado à três anos e meio de prisão efetiva.
Cartazes do comício na praça Manezhnaia, agendado à 15 de janeiro de 2015
Os movimentos cívicos russos começaram preparar-se para uma grande manifestação em Moscovo, agendada ao dia 15 de janeiro de 2015. Manifestação que inquietou as autoridades russas, ao ponto, destes imporem o lockout (embora desmentido e parcial) sobre o evento na imprensa e nas redes sociais russas e até estrangeiras (tentativa do bloqueio das contas no Facebook e Twitter).

Revolução vs salada russa

Obrigados à reagirem, devido a antecipação do regime, os opositores ao Putin reuniram-se em Moscovo, na segunda metade do dia 30, na praça Manezhnaia e na rua Tverskaia, nos comícios, passeatas e manifestações, sem nenhuma possibilidade de obterem as autorizações necessárias para estes eventos.

“Glória à Ucrânia!” e “Putin é um cadáver!”, foram as principais palavras de ordem, gritadas pelos manifestantes em Moscovo (Manejka live). A música popular “La-la-la-la-la-la-la!” também foi ouvida na área.

A polícia de choque OMON carregou sobre a multidão (de um modo soft), empurrando as pessoas fora da praça Manezhnaia e detendo diversos cidadãos, incluindo os jornalistas e até mirones na rua Tverskaia (foram detidos pelo menos 245 pessoas, colocados nos autocarros da polícia). Os manifestantes pacíficos respondiam com os diversos novos slogans: “Heróis de prisão, os fascistas no Kremlin”,  “Glória à Ucrânia!”, “Putin é um cadáver”, “Os russos e ucranianos são irmãos!”, “Putin, esqui, Magadão”, “Liberdade à Ucrânia”, “Ano Novo sem Putin”, “Rússia sem Putin” “Liberdade aos presos políticos”, “Crimeia não é nossa!”, “Fora o Primeiro Canal” (a TV de propaganda estatal russa), informa TSN.ua
É de recordar que em 2008 Alexei Navalny apoiou a invasão russa na Geórgia, recentemente mostrou-se favorável a anexação russa da Crimeia, dizendo que “Crimeia não voltará ser ucraniana”.

As ações em apoio de Navalny decorreram em São Petersburgo, Saratov (sem detenções) e Ekaterinburgo. 

Em geral, a “revolução de salada russa”, o nome dado às atuais manifestações anti-Putin pode ser resumido nestas duas frases:
Manejka live: Com os gritos “Vergonha” não se consegue nada, rapaziada. Segurem as mãos. Não se rendem. #Манежка
Dmitry Ramzaev: openrussia.org, rapazes, enquanto vocês (nós) não aprenderem virar os carros da polícia, vocês (nós) serão sovados. Desculpem.
Maydan ucraniano: as diferenças são óbvias...
Um dos ativistas detidos, o jornalista Evgeny Levkovich, escreveu no seu Facebook:
Mas sabem qual agora a primeira pergunta que (fazem) aos detidos na polícia? “Há cidadãos da Ucrânia?” Os próximos, provavelmente, serão os judeus. Então. Dado que eu não sou cidadão da Ucrânia (embora até é uma pena), e judeu sou apenas em ¼, até agora aqui não me batem. Eu ate, tentarei, daqui à meia hora, estar em direto na Espreso.tv. Diretamente da polícia. Assim é a nossa vida.
Navalny, no metro, à caminho ao centro de Moscovo
Além dos diversos jornalistas temporariamente detidos, por exemplo, Ayder Muzhdabaev, foi detido o próprio Navalny, que nas vésperas escreveu no seu Twitter: “A prisão domiciliária – isso sim, mas hoje eu quero muito de estar com vocês. Por isso, eu também vou”.

As redes sociais russas manifestaram a sua visão artística da detenção do Navalny...  
A rua Tverskaia, arredores da praça Manezhnaia, cerca de 3h de gravação (pode-se ver o momento da detenção do Navalny, os autocarros com os ativistas detidos, detenções em massa, etc.):

http://youtu.be/11-mqWeAwXg

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