quarta-feira, abril 24, 2013

Quem matou compositor Volodymyr Ivasyuk?


No dia 24 de abril de 1979 saiu da casa o jovem compositor ucraniano Volodymyr Ivasyuk (30), cujas canções eram ouvidos e apreciados por toda a Ucrânia e mesmo União Soviética. Nunca mais ele foi visto com vida…

Dois dias mais tarde os seus pais fizeram a queixa na milícia (polícia) de segurança pública, que quase nada fez para o encontrar. As buscas duraram entre 27 de abril e 11 de maio, quando foi fechado o processo criminal № 239 que tinha título “Processo de buscas pelo facto da morte do compositor V. Ivasyuk”. 

O seu corpo foi encontrado no dia 18 de maio, na mata nos arredores de Lviv. Ao lado acharam a sua pasta vazia (as partituras musicais desapareceram), na mão estava o relógio, nos bolsos permaneciam os trocos. O corpo estava parcialmente sentado, parcialmente de pé, mas retirado da forca, não apresentava os sinais de decomposição, a marca no pescoço era bastante recente.

A esposa do poeta Rostyslav Bratun, Neonila conta como decorreu o reconhecimento do corpo. A casa mortuária estava mal iluminada, a mãe do compositor, Sofia Ivanivna, reconheceu o filho apenas pela marca de apêndice e de um sinal nas costas. A cara do Volodymyr estava toda marcada, não tinha olhos, teve dedos partidos, todo o corpo em nódoas negras. Ignorando tudo isso os investigadores apostaram na versão de “suicídio”, descartando todas as outras.

Apesar de uma enorme popularidade do compositor, o poder comunista estava se opor à sepultação do corpo no cemitério de Lychakivske em Lviv. O seu melhor amigo, Rostyslav Bratun, recebeu o “conselho” de não aparecer na cerimônia do enterro do compositor. Bratun desobedeceu a ordem e discursou na campa do amigo. Em resultado ele foi forçado deixar o cargo do chefe da Direção provincial da União dos Escritores de Lviv, durante longos anos as suas obras não eram publicadas oficialmente.

O enterro do Volodymyr Ivasyuk transformou-se numa manifestação pública, reunindo mais de 10 mil pessoas. O caixão foi levado nas mãos até o cemitério. Simbolicamente, neste mesmo dia, 22 de maio, o corpo do poeta ucraniano Taras Shevchenko foi levado de São Petersburgo à Ucrânia. A campa do compositor foi coberta de flores, que polícia retirou naquele mesmo dia, mas no dia seguinte os cidadãos trouxeram mais. E assim durante um mês. Na cidade de Lviv apareciam os panfletos, colados nas árvores e edifícios, cuja tônica era: “Não enforcarão nos todos! Não nos matarão!

A mãe do compositor, Sofia Ivanivna, pediu ao 1º secretário do partido comunista de Lviv, a permissão de erguer o monumento na campa do filho. Ele expulsou a senhora do seu gabinete. Em breve, a sua campa foi destruída e incendiada, ato de vandalismo repetido algumas vezes.

Do relatório do agente do KGB da URSS «Sokol» (Falcão): «Com as suas alusões Rostyslav Bratun incutiu nos presentes a certeza de que os funcionários da segurança estatal (KGB) poderiam matar Ivasyuk». Do mesmo relatório: «Entre os meios da intelligentsia de Lviv e Kyiv circulam os rumores de que, alegadamente, os funcionários do KGB secretamente levaram Ivasyuk à floresta e o enforcaram».

Vinte dias após o aparecimento do corpo do compositor, os jornais de Lviv publicaram a informação: “Comissão de peritagem médica determinou que a causa da morte do V. M Ivasyuk é o enforcamento auto infringido”. Mas essa deliberação escrita está ausente no processo criminal, o vice-procurador que conduzia a investigação, afirma que a deliberação foi emitida pelo secretário da casa mortuária, que emitiu o laudo da morte. Logo à seguir, do gabinete do mesmo vice-procurador desapareceu o cinto, que na versão dos investigadores foi usado para enforcamento.

A imprensa diretamente subordinada ao partido comunista escreveu: “Ivasyuk estava mentalmente doente. Nos últimos anos, ele experimentou a depressão e a crise criativa”. Também foi publicado documento segundo o qual “Ivasyuk, como doente mental, estava sob a supervisão da Cátedra de Psiquiatria do Instituto de Medicina de Lviv”. Depois do fim da URSS se soube que o documento foi forjado pelo KGB.

Até agora não se sabe onde o compositor estava entre os dias 24 de abril e 18 de maio. Existem os rumores sobre um jovem casal que viu como foi detido Ivasyuk. Os jovens também morreram em circunstâncias não esclarecidas. O pai do compositor recebeu a nota anônima onde se afirmava que Volodymyr Ivasyuk foi levado por uma “Volga” (carros usados pela KGB e polícia). Dois meses antes do seu desaparecimento o compositor foi chamado para KGB, para falar dos honorários que deveria receber pela edição dos seus discos no Canadá e nos EUA. KGB o “persuadia” entregar o dinheiro à “Fundação Soviética da Paz” (uma das estruturas usadas pelo KGB para as suas operações no estrangeiro), à troca da permissão de visitar os EUA. Compositor negou essa troca, não pretendendo deixar Ucrânia.

Quando a morte do Volodymyr Ivasyuk foi conhecida pelo seu amigo e apreciador da obra musical, tenente-general da polícia criminal de Moscovo, Alexey Ekimyan, este tentou desvendar o mistério da morte do amigo. Mas apesar de toda a sua influência no sistema legal soviético, nada conseguiu saber sobre o caso.

Conhecido em toda a Ucrânia já aos 20 anos, autor das canções mais populares, Volodymyr Ivasyuk não estava filiado na União dos Compositores da Ucrânia. As suas músicas eram tocadas nas rádios da Ucrânia e da União Soviética, as suas canções representaram a URSS nos festivais estrangeiros. Nos últimos anos ele estudava a música clássica, mas muitos destes trabalhos desapareceram com a sua morte.

Durante uma década o seu nome estava envolto em silêncio, apenas em 1988 o programa televisivo regional “Chervona ruta” rompeu este tabu, começaram surgir alguns artigos sobre autor desta famosa melodia. O monumento fúnebre do compositor, proibido pelo poder comunista, foi erguido 20 anos após a sua morte, no 50º aniversário de nascimento do Volodymyr Ivasyuk. Desde ai, o monumento já três vezes foi alvo das ações de vandalismo.

As canções do Ivasyuk, apesar da sua morte física, se tornaram o seu monumento imortal, eles são cantados pelos ucranianos até os dias de hoje, escreve Triângulo Ucraniano

Canção do Volodymyr Ivasyuk "Chervona Ruta"

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